O Voando em Moçambique é um pequeno tributo à História da Aviação em Moçambique. Grande parte dos seus arquivos desapareceram ou foram destruídos e o que deles resta, permanecem porventura silenciosos nas estantes de muitos dos seus protagonistas. A História é feita por todos aqueles que nela participaram. É a esses que aqui lançamos o nosso apelo, para que nos deixem o seu contributo real, pois de certo possuirão um espólio importante, para que a História dessa Aviação se não perca nos tempos e com ela todos os seus “heróis”. As gerações futuras de certo lhes agradecerão. Muitos desses verdadeiros heróis, ilustres aventureiros desconhecidos, souberam desafiar os perigos de toda a ordem, transportando pessoas e bens de primeira necessidade ou evacuando doentes, em condições meteorológicas adversas, quais “gloriosos malucos das máquinas voadoras”. Há que incentivar todos aqueles que ainda possuam dados e documentos que possam contribuir para que essa História se faça e se não extinga com eles, que os publiquem, ou que os cedam a organizações que para isso estejam vocacionadas. A nossa gratidão a todos aqueles que ao longo dos tempos se atreveram e tiveram a coragem de escrever as suas “estórias” e memórias sobre a sua aviação. Só assim a História da Aviação em Moçambique se fará verdadeiramente, pois nenhum trabalho deste género é suficientemente exaustivo e completo. A todos esses ilustres personagens do nosso passado recente que contra tudo e todos lutaram para que essa história se fizesse, a nossa humilde e sincera homenagem.

A eles dedicamos estas linhas.

José Vilhena e Maria Luísa Hingá

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Quem tiver fotos e/ou documentos sobre a Aviação em Moçambique e os queira ver publicados neste blogue, pode contactar-me pelo e-mail:lhinga@gmail.com

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15/10/06

68-OCAPA- Por Glória de Sant'Anna



A OCAPA encerrou no final de 1968, na então Porto Amélia, agora Pemba
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"Moçambique - Cabo Delgado - anos sessenta - Glória de Sant'Anna

A noite está tranquila de mar manso que sussurra. O silêncio instalou-se no trinar dos insectos. Tudo se prepara para o sono deslizante e indefeso.
O anúncio chega inesperado. Há feridos junto do Rovuma, o rio fronteira ao norte. Das transmissões pede-se incessantemente um avião da OCAPA (1). E a torre de controle do aeroporto, que se ergue pintada de muito feio a substituir já de cimento a antiga palhota do Alto Jingone, a torre mantém-se em "stand by".
A organização de carreiras aéreas tem a finalidade de manter rotas diárias de transporte de passageiros, bagagem e correio em todo o Cabo Delgado. E faz implicitamente a aproximação de populações isoladas no tempo das chuvas quando as estradas se tornam quase ribeiras ou passadeiras de matope. Quando toda a baixa do rio M 'salo se alaga e o batelão preso por cordas é uma jangada inútil.
Há pequenos campos de aviação e o cuidado de os manter operacionais.
Porém a OCAPA não foge a pôr no ar o transporte indicado para casos urgentes.
Mas qual dos pilotos acede a ir a esta hora pelo escuro a dentro até à zona referida?
Qualquer deles o fará. E vai o que é solteiro (2) que espontaneamente se oferece. É um excelente piloto e a camaradagem na orgânica da empresa é verdadeira.
A noite desdobra-se morna, preguiçosa, de uma beleza intensa e insensível.
Os apelos mantêm-se a um ritmo angustiado. Estão dadas as coordenadas do lugar. Não há grande extensão de campo aberto. Há árvores. O piloto não conhece o terreno.
O avião está na pista. Descola. O piloto pede o máximo de faróis, lampiões, luzes que iluminem o local e incidam na margem do Rovuma, no limite da água.
Mantém-se constante o contacto pela rádio: frases breves. Interrupções. Perguntas.
O tempo toma uma pesadíssima e incalculável medida.
E do meio da noite o aviso: "É aqui. Vou aterrar. Seja o que Deus quiser."
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Pela madrugada é o regresso. A ambulância espera.
Todos estão cansados.
Cansados os que intervieram neste voo cego.
Cansados os que todos os dias ao nascer do sol olham o fio branco do horizonte e com raiva ou amargura mas sem palavras, votam ao fim da guerra.
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(1) - Organização de carreiras Aéreas de Porto Amélia, empreendimento pioneiro da iniciativa do Arquitecto Andrade Paes. Operava com dois monomotores e um bimotor "mininor". Fazia também intercâmbio com os aviões bimotor da empresa de Mr. Lebret (das Ilhas Comores), para promoção do turismo en tre Moçambique e essas Ilhas.
(2) - José Quental - ex piloto da Força Aérea Portuguesa

5 comentários:

JAIME disse...

Obrigado pela transcrição.
E parabéns pelo excelente trabalho que nos ofereces.
A História É TUDO...e Moçambique tem muita HISTÒRIA !
Abs.,

Jaime

Luisa Hingá disse...

Jaime se tiveres mais não te acanhes....Risos.
E já viste que o Cmte Vilhena completou com as fotos???

JAIME disse...

Vi!....E até acabei de transcrever no ForEver PEMBA.
Também encaminhei o link para a Inêz Paes - filha do Arq. Andrade Paes (sócio e fundador da OCAPA) e da poetisa Glória de Sant'Anna. Creio que será uma emoção para todos lá por casa...

Obrigada e um beijão,

Jaime Luis Gabão

Anónimo disse...

Só agora consigo aqui vir e deixar uma palavra amiga e agradecida.
Um Belíssimo trabalho sobre a aeronáutica em Moçambique.
Jaime, o meu Pai não tinha sócios, foi o fundador da OCAPA e iniciador dos vôos no Distrito de Cabo Delgado, após um estudo económico que apresentou.
Abraços,
Inez

Lu não consigo ver o seu mail..

Luisa Hingá disse...

Inês se fosse ao meu perfil via o e-mail, mas é com todo o prazer que o deixo aqui:
lhinga@mail.telepac.pt
Obrigada pelo comentário.